Navegando pelos 7 mares em One Piece: Unlimited World Red
Por Mario Toledo
Era uma vez um homem chamado Gold Roger, que era o rei dos piratas. Ele tinha fama, poder e riqueza além de seus maiores sonhos. Antes que o pendurassem numa forca, essas foram suas últimas palavras:
- Minha fortuna terá que ser encontrada. O tesouro está todo em um lugar só. Por isto o chamei de... ONE PIECE.
Desde então, piratas de toda a parte do mundo saíram navegando pela grande linha procurando por One Piece, o tesouro que faria os sonhos virarem realidade.
Apesar da péssima adaptação brasileira da abertura de One Piece, não há como desmerecer um dos maiores shounens já feitos. Certo, sou suspeito para falar, uma vez que acompanho as aventuras dos chapéus de palha desde suas primeiras publicações no Brasil (sim, possuo grande parte dos mangás toscamente publicados pela Conrad), mas os dados mostram que One Piece superou até mesmo Dragon Ball não só em vendas de encadernados, como também em duração da série, estando no topo das listas dos mais lidos da Shueisha mesmo após 17 anos de publicação.
Por estes e outros motivos, não consegui conter o entusiasmo quando a Bandai anunciou One Piece: Unlimited World Red, o novo jogo da série para os demais consoles atuais, lançado inicialmente para o 3DS e depois portado para o Wii U. Eu já havia jogado ambos os jogos da série Unlimited Cruise para o Nintendo Wii e havia adorado, e os trailers do novo jogo deixaram minhas expectativas no talo.
Joguei Unlimited World Red no atual console de mesa da Nintendo, e o motivo da rápida localização da Bandai ficou muito clara logo nos primeiros minutos de jogo: a tradução original em japonês foi mantida. Para o fã, isto é um ponto positivo, principalmente para quem costuma acompanhar o anime com o áudio original. Porém, em alguns momentos, foi difícil acompanhar o diálogo dos personagens apenas pela legenda, especialmente nas cut scenes, que não permitem controlar o andamento da conversa com o pressionar do botão.
Com o áudio em japonês, você depende das legendas para compreender a história.
Existe outro motivo para que os fãs da série curtam Unlimited World Red: sua história é totalmente original, e inclui personagens criados pelo próprio Eiichiro Oda. Pato, por exemplo, é um guaxinim falante, que guia os chapéus de palha para uma cidade chamada Transtown. Lá, após se separarem, cada tripulante é raptado, sobrando para Luffy resgatá-los em áreas perigosas e cheias de inimigos.
O tutorial do jogo se prolonga até que o jogador resgate os 8 membros raptados da tripulação, o que leva em torno de 3 horas se você for muito rápido.
Curiosamente, One Piece: Unlimited World Red possui fortes semelhanças com Kingdom Hearts. Além de um visual cheio de cores e de uma perspectiva em terceira pessoa, Transtown é extremamente parecida com Traverse Town (incluindo no nome). A cidade serve como base para o jogador, que pode circulá-la pelos telhados utilizando o "Gumo Gumo no Rocket" de Luffy.
Atravessar a cidade utilizando o "Gumo Gumo no Rocket" de Luffy é a maior mamata.
Em Transtown, Luffy conhece outra personagem original do jogo, chamada Yadoya, que após ser salva de alguns bandidos locais, passa a administrar o hotel local, onde o jogador pode salvar o seu jogo, equipar itens em sua mochila ou realizar alguns ajustes em seu time.
Mais do que isto, Yadoya permite que o jogador faça upgrades em Transtown, construindo novos estabelecimentos com ítens de loot encontrados em suas aventuras. Cada novo estabelecimento trás facilidades para o jogador, como um restaurante que cozinha pratos para aumentar status temporariamente ou uma horta para a produção de ervas medicinais.
Transtown é grande, e o jogador consegue se perder facilmente. Alguns moradores cumprimentarão Luffy ao verem o personagem passar, e o jogador poderá retribuir o cumprimento apertando o botão R (algumas vezes, isto lhe garante ítens como presente).
Outros moradores podem pedir favores, que variam entre pedidos para construção de novos estabelecimentos, ou quests que podem ser atribuídas dentro do Inn (normalmente, as quests se baseiam em coletar ítens específicos ou em derrotar um determinado inimigo).
Yadoya pode parecer chata, mas ela lhe ajuda com diversas funções organizacionais.
Acessando o Thousand Sunny, o jogador poderá viajar para novos lugares, organizando um time de 3 dos tripulantes do bando dos chapéus de palha. Cada mundo representa um lugar conhecido da série One Piece, como Punk Hazard e Alabasta, organizados em uma espécie de dungeon.
Em cada mundo, o jogador pode escolher qual personagem controlar, enquanto os outros 2 o seguirão e darão suporte nas batalhas. Cada personagem possui habilidades específicas, tanto dentro quanto fora das batalhas - Luffy, por exemplo, utiliza os poderes da Gumo Gumo no Mi para desferir golpes fortes, enquanto Nami pode deixar seus adversários paralizados ao invocar uma nuvem de chuva.
Sem dúvida, controlar o personagem que mais gosta é o ponto alto do jogo, e as diferenças entre cada personagem tornam muito divertido a customização da equipe. Acabei tornando Luffy, Zoro e Chopper o meu trio preferido para as aventuras.
Foi mal, mas Tony Tony Chopper é o líder da minha party.
Dentro das batalhas, o jogador pode utilizar uma combinação de golpes através dos botões de X e Y. Algumas vezes, o jogador poderá executar ações especiais apertando o botão A, desviando de um ataque ou refletindo um projétil. Além disto, caso o jogador execute uma lista de golpes que aparecem na tela, ele entrará no modo "Break", ficando mais ágil e mais rápido.
Com o botão R, o jogador tem acesso a 4 poderes especiais, variando de acordo com o personagem. Cada ataque consome a barra SP de maneiras específicas, e pode ter resultados diferentes, como um ataque em um único adversário, uma transformação ou um ataque combinado dos 3 personagens (chamado de Link Attack).
O botão R também permite que os personagens conversem entre si. Caso ele seja apertado no momento certo, os personagens auxiliares irão curar o jogador, ou em outro caso, uma frase de efeito será pronunciada pelo líder da party para aumentar a moral do time e torná-los temporariamente mais fortes.
O jogador poderá controlar apenas 1 dos personagens dentro das fases, enquanto os outros dois darão assistência.
Derrotar inimigos garante experiência para que a equipe possa subir de nível. Cada nível aumenta os status de cada personagem e sua resistência a elementos específicos. O jogador ainda pode chamar um amigo para partidas cooperativas, onde o segundo player controla outro dos personagens da equipe.
É super importante que o jogador explore bem cada mundo, pois existem muitos ítens escondidos em baús ou em objetos do cenário, como moitas e árvores.
Cada mundo contém barreiras mágicas que impedem que o jogador prossiga, a menos que ele cumpra uma determinada tarefa, como eliminar um certo grupo de inimigos. Ao finalizar a tarefa, a barreira é quebrada, e o jogador é contemplado com uma frase, que pode ser equipada em um personagem ou utilizada como um item.
As frases possuem poderes especiais, e servem mais ou menos como equipamentos, aumentando o status de um único personagem, ou utilizadas em batalha para um bônus temporário.
As frases marcantes dos personagens possuem poderes especiais dentro do jogo.
Ao fim de cada cenário, o jogador precisa derrotar um chefe, normalmente relacionado ao cenário em questão. Em Enies Lobby, o jogador deverá enfrentar Lucci, enquanto em Alabasta, o jogador enfrentará Crocodile.
Os chefes são difíceis, e requerem que o jogador preste atenção na hora de apertar os botões de ação para desviar ou revidar um ataque. Ao derrotar o chefe, o jogador termina o capítulo da história, e retorna à cidade para o progresso do jogo.
Durante sua aventura, o jogador poderá pescar peixes ou capturar insetos. Estas ações só podem ser executadas caso o jogador possua uma vara de pescar ou uma rede de captura, e ao serem utilizadas da maneira correta, iniciam um mini-game.
Na pesca, o jogador deverá apertar os botões da tela no momento certo dentro do tempo limite, assim como em jogos rítmicos, mas sem uma música de fundo. Já na captura de insetos, o jogador precisa apertar os botões que saltarem da rede de forma correta, independente da ordem em que aparecem. Os peixes e insetos adquiridos podem ser enviados para o museu de Transtown e revistos a hora que quiser (sim, igual a Animal Crossing).
One Piece: Unlimited World Red ainda possui uma série de DLCs, divididos em roupas especiais para os personagens e capítulos extras da história. Um destes capítulos ainda permite que o jogador controle Luffy e Ace juntos, como se Ace tivesse sido ressuscitado.
Aaaaaaaaace!
Além do modo história, o jogo trás um novo modo chamado Coliseum. Nele, Law acompanha os chapéus de palha para um torneio organizado pelo Donquixote Doflamingo, onde o jogador deve enfrentar inimigos para ganhar pontos e subir em um ranking em forma de pirâmide, dividido nos níveis C, B e A.
Existem diferentes modos no Coliseum, e cada um garante uma quantidade diferente de pontos. No modo single, o jogador escolhe um único personagem para batalhas de 1 contra 1, devendo enfrentar aleatoriamente outros personagens do jogo, enquanto em outro modo, o jogador é acompanhado de um aliado para enfrentar hordas de inimigos dentro de um tempo limite. Ainda existe um modo chamado special challenge, onde o jogador utiliza um personagem escolhido pelo jogo para enfrentar um inimigo específico, ganhando mais pontos do que nos modos anteriores.
O modo Coliseum permite não só que o jogador controle Law e os demais chapéus de palha, como também permite utilizar outros personagens da série, incluindo os vilões. Mas para isto, é necessário liberá-los de acordo com os requisitos do jogo, como chegar a um rank específico ou cumprir outros demais objetivos.
Com tudo o que foi mencionado acima, pode parecer que One Piece: Unlimited World Red possui uma infinidade de coisas para se fazer, certo? Bem, na verdade, não.
Com 5 horas de jogo, você compreende que ele é mais linear do que aparenta. Os mundos não permitem muita exploração, e se limitam a no máximo 4 cenários. Acredito que isto poderia ter sido mascarado com uma liberdade maior de exploração, talvez permitindo que o jogador controlasse o Thousand Sunny até a fase, mesmo que através de um mapa mundo, como acontece com a Gummi Ship em Kingdom Hearts II. Digo, já que a proposta é a imersão no universo de One Piece, acho muito mais interessante produzir um jogo com um mundo semi-aberto do que algo mais fechado.
Além disto, apesar dos excelentes gráficos da versão para o Wii U, o uso dos recursos do GamePad seria nulo se não fosse pela possibilidade de se jogar utilizando apenas o controle. E isto me frustrou muito, pois uma das coisas mais chatas do jogo é a necessidade de ficar apertando start para olhar o mapa, ao invés de simplesmente inseri-lo na tela do GamePad.
One Piece: Unlimited World Red não é um jogo perfeito, mas é sem dúvidas o melhor jogo da franquia lançado até o momento. Porém, como ele é um jogo de nicho, se você nunca leu o mangá ou nunca assistiu ao anime, então sugiro não adquiri-lo, pois não se divertirá tanto quanto um fã da série.