Bravamente padrão, não existe definição melhor para Bravely Default
Por André Aranovich
Eu nasci em um mundo onde a chamada era de ouro dos JRPGs passou. Quando o SNES estava em seu ápice, mal sabia falar, e quando a era do PS1 acabou, ainda tinha dificuldades para ler português. Provavelmente foi o mesmo para todas as pessoas que nasceram no meio da década de 90. Mesmo assim, o meu gênero favorito dentro do mundo dos videogames foi o RPG japonês. Grande culpa disso foi toda a fissura que eu tinha com Pokémon, aprendi a amar jogos em turnos e ter um gosto mais semelhante com os que pegavam no controle a mais tempo.
Só que existe um
problema: Os JRPGs dos anos 90 para cá deram uma evolução considerável
no enredo. Basta comparar o Final Fantasy IV com o Final Fantasy VII, o
aprofundamento que temos em cada um é diferente, isso foi ocasionado
pelos recurso tecnológicos da época. Não é questão de um ser melhor que o
outro, são os limites que existem em cada um, e o jeito que a a empresa
soube trabalhar com eles.
Bravely Default veio para
trazer as lembranças daquela época de 16 bits que todos amaram. O
problema foi que eu não estava lá. Então o jogo não me trás memórias
daquela infância que a muito estava perdida. Eu o comparo com os RPGs
atuais, seja um novo "Tales of" ou o último jogo da série "Shin Megami
Tensei". E é assim que esse texto foi trabalhado.
Como
toda boa homenagem que se preza, BD é um jogo baseado em turnos, muito
semelhante com os jogos Final Fantasy das antigas. Como uma adição bem
vinda de novo fator de estratégia, estão os comandos "Bravely" e
"Default". Ao acionar "Default" o personagem entra em um modo de defesa -
recebendo a metade do dano - e, vamos dizer assim, ganha um ponto de
bravura. É possível guardar até quatro pontos de bravura para utilizar
no comando "Bravely". Esse permite atacar um número adicional de vezes -
com no máximo 4 comandos por turno. O esquema de ataque adicionais e
"aguardar" para atacar é muito bom, e torna algumas batalhas mais
rápidas ou mais estratégicas, dependendo de como o jogador preferir.
Aliás,
essa questão de "como o jogador preferir" é um fator muito interessante
em Bravely Default. Como recebemos a versão "For the Sequel" do jogo
(Mais informações no box abaixo) temos a possibilidade de manipular
alguns recursos do jogo ao bel prazer. É possível mexer no valor de
encontrar bichos ao perambular pelos cenários, o que ajuda muito caso
alguém queira fazer um bom e velho grind (basta jogar em 100% a chance
de encontrar inimigos), ou precise acelerar para um ponto e salvar com
urgência (jogando em -100%, ou melhor, zerando a chance de encontrar
alguém). Também é possível acelerar as batalhas em um estilo "fast
forward" do vídeos, algo extremamente bem planejado, visto que as
animações de combates conseguem ser mais lentas do que as de Final
Fantasy VIII.
No Japão, existem duas versões de Bravely Default. A primeira, Bravely Default: Flying Fairy, só existe na terra do sol nascente e foi alterada seguindo o feedback dos jogadores nipônicos para o que qtornou-se a segunda versão, Bravely Default: For the Sequel, que é a versão que existe na Europa e aqui nas Américas. As mudanças exigidas foram as regalias que permitem mexer na velocidade que as batalhas ocorrem e alterar a chance de encontros aleatórios.
Por
conta de que o jogo é uma continuação espiritual de Final Fantasy: The 4
Heroes of Light, o jogo continua com o sistemas de mudança classes que são
adquiridas com o tempo (algo que também é visto em Final Fantasy
III e Final Fantasy V), com esse sistema, a equipe de cada pessoa torna-se bem pessoal, trazendo uma experiência bem diferente para cada jogador.
Optar pelas
escolhas do jogador em Bravely Default foi fenomenal para a experiência, se
isso ocorresse durante o jogo todo seria muito divertido, mas temos
alguns momentos que mostra que essa liberdade não foi a filosofia que a
Square Enix seguiu sempre. No início do jogo existem
cavernas que, como todo jogador de RPG, eu queria explorar, mas assim
que entrei nela, recebi um papinho de como a missão principal é
importante e não devemos desviar o foco para algo que não é
importante... Se eu quero entrar na caverna com monstros que são o dobro
do meu nível, me deixe morrer para eles para aprender que isso não é
possível - assim como acontece em Xenoblade Chronicles - limitar o
jogador nesses momentos é uma escolha muito antiquada por parte da senhorita Square.
O
visual de Bravely Default não é soberbo mas também não deixa a desejar. Com padrão de personagens "chibi" de títulos do Nintendo 3DS, os gráficos são uma evolução natural de seu antecessor espiritual, e o jogo utiliza planos de fundos pré-renderizados que a foram marca em Final Fantasy VII.
As músicas são um enigma a parte, enquanto estava jogando elas se
mesclaram muito bem com o ambiente, a ponto de que nem percebia que
tocava uma música. Quando as fui escutar sem estar jogando... Músicas
soberbas, fazia tempo que não ouvia músicas clássicas dentro de um RPG tão bem
feitas. (Deixando uma informação extra para quem está lendo... Quem
compôs as músicas de Bravely Default é quem iniciou o projeto Linked
Horizon, das aberturas do famoso anime Shingeki no Kyojin/Attack on Titan).
Mas
se teve uma coisa que decepcionou-me em Bravely Default foi o enredo. Eu
não digo que quero algo inovador, é fatídico em todo JRPG acontecer "N"
coisas que obrigam o grupo de heróis, que estão no meio da puberdade,
salvar o mundo. É clichê. Mas aqui o clichê está estupidamente
exagerado. Dentro da equipe principal temos "O herói politicamente correto", "O herói com problemas
familiares", "O herói que precisa salvar o mundo
por pura necessidade" e "O herói com amnésia e tarado". Esse último
ainda anexa dois personagens clichês em um só, nossa, isso foi incrível!
Eu
queria esganar cada um dos integrantes das minha equipe com as mãos
nuas durante decorrer do jogo, é impressionante como personagens
tão superficiais conseguiram ser tão irritantes. Além disso, todos os
inimigos "principais" do jogo possuem um problema de serem "do mal"
demais, salvo raríssima exceções. Algumas missões secundárias tem um
enredo mais bem desenvolvido do que a história principal, então é
provável que todo esse "tom escrachado" tenha sido proposital, mas
Bravely Default me obrigou a ouvir as ladainhas do Tiz e da Agnès
durante horas a fio e isso eu não é desculpa para brincadeira nenhuma.
No
final, Bravely Default se mostrou mais de acertos do que erros, não é
um RPG que definirá a geração (e dificilmente será lembrando como algo
fora dos padrões do gênero). O máximo que ele provou é que pode tentar
ser um novo "Final Fantasy" da Square para as plataformas da Nintendo, visto que temos sua sequência, Bravely Second, por vir. Não é um jogo que
eu recomendo para quem quer se iniciar no maravilhoso mundo dos JRPGs,
existem títulos muito melhores que esse espalhados por todos os
consoles de todas gerações. Mas para quem está chateado porque não aparece nenhum RPG que lhe
ambicione, Bravely Default pode ser um bom jogo.