Nintendo - 19/03/2014

Bravamente padrão, não existe definição melhor para Bravely Default


Eu nasci em um mundo onde a chamada era de ouro dos JRPGs passou. Quando o SNES estava em seu ápice, mal sabia falar, e quando a era do PS1 acabou, ainda tinha dificuldades para ler português. Provavelmente foi o mesmo para todas as pessoas que nasceram no meio da década de 90. Mesmo assim, o meu gênero favorito dentro do mundo dos videogames foi o RPG japonês. Grande culpa disso foi toda a fissura que eu tinha com Pokémon, aprendi a amar jogos em turnos e ter um gosto mais semelhante com os que pegavam no controle a mais tempo.

Só que existe um problema: Os JRPGs dos anos 90 para cá deram uma evolução considerável no enredo. Basta comparar o Final Fantasy IV com o Final Fantasy VII, o aprofundamento que temos em cada um é diferente, isso foi ocasionado pelos recurso tecnológicos da época. Não é questão de um ser melhor que o outro, são os limites que existem em cada um, e o jeito que a a empresa soube trabalhar com eles.

Bravely Default veio para trazer as lembranças daquela época de 16 bits que todos amaram. O problema foi que eu não estava lá. Então o jogo não me trás memórias daquela infância que a muito estava perdida. Eu o comparo com os RPGs atuais, seja um novo "Tales of" ou o último jogo da série "Shin Megami Tensei". E é assim que esse texto foi trabalhado.


Como toda boa homenagem que se preza, BD é um jogo baseado em turnos, muito semelhante com os jogos Final Fantasy das antigas. Como uma adição bem vinda de novo fator de estratégia, estão os comandos "Bravely" e "Default". Ao acionar "Default" o personagem entra em um modo de defesa - recebendo a metade do dano - e, vamos dizer assim, ganha um ponto de bravura. É possível guardar até quatro pontos de bravura para utilizar no comando "Bravely". Esse permite atacar um número adicional de vezes - com no máximo 4 comandos por turno. O esquema de ataque adicionais e "aguardar" para atacar é muito bom, e torna algumas batalhas mais rápidas ou mais estratégicas, dependendo de como o jogador preferir.

Aliás, essa questão de "como o jogador preferir" é um fator muito interessante em Bravely Default. Como recebemos a versão "For the Sequel" do jogo (Mais informações no box abaixo) temos a possibilidade de manipular alguns recursos do jogo ao bel prazer. É possível mexer no valor de encontrar bichos ao perambular pelos cenários, o que ajuda muito caso alguém queira fazer um bom e velho grind (basta jogar em 100% a chance de encontrar inimigos), ou precise acelerar para um ponto e salvar com urgência (jogando em -100%, ou melhor, zerando a chance de encontrar alguém). Também é possível acelerar as batalhas em um estilo "fast forward" do vídeos, algo extremamente bem planejado, visto que as animações de combates conseguem ser mais lentas do que as de Final Fantasy VIII.

No Japão, existem duas versões de Bravely Default. A primeira, Bravely Default: Flying Fairy, só existe na terra do sol nascente e foi alterada seguindo o feedback dos jogadores nipônicos para o que qtornou-se a segunda versão, Bravely Default: For the Sequel, que é a versão que existe na Europa e aqui nas Américas. As mudanças exigidas foram as regalias que permitem mexer na velocidade que as batalhas ocorrem e alterar a chance de encontros aleatórios.

Por conta de que o jogo é uma continuação espiritual de Final Fantasy: The 4 Heroes of Light, o jogo continua com o sistemas de mudança classes que são adquiridas com o tempo (algo que também é visto em Final Fantasy III e Final Fantasy V), com esse sistema, a equipe de cada pessoa torna-se bem pessoal, trazendo uma experiência bem diferente para cada jogador.


Optar pelas escolhas do jogador em Bravely Default foi fenomenal para a experiência, se isso ocorresse durante o jogo todo seria muito divertido, mas temos alguns momentos que mostra que essa liberdade não foi a filosofia que a Square Enix seguiu sempre. No início do jogo existem cavernas que, como todo jogador de RPG, eu queria explorar, mas assim que entrei nela, recebi um papinho de como a missão principal é importante e não devemos desviar o foco para algo que não é importante... Se eu quero entrar na caverna com monstros que são o dobro do meu nível, me deixe morrer para eles para aprender que isso não é possível  - assim como acontece em Xenoblade Chronicles - limitar o jogador nesses momentos é uma escolha muito antiquada por parte da senhorita Square.

O visual de Bravely Default não é soberbo mas também não deixa a desejar. Com padrão de personagens "chibi" de títulos do Nintendo 3DS, os gráficos são uma evolução natural de seu antecessor espiritual, e o jogo utiliza planos de fundos pré-renderizados que a foram marca em Final Fantasy VII. As músicas são um enigma a parte, enquanto estava jogando elas se mesclaram muito bem com o ambiente, a ponto de que nem percebia que tocava uma música. Quando as fui escutar sem estar jogando... Músicas soberbas, fazia tempo que não ouvia músicas clássicas dentro de um RPG tão bem feitas. (Deixando uma informação extra para quem está lendo... Quem compôs as músicas de Bravely Default é quem iniciou o projeto Linked Horizon, das aberturas do famoso anime Shingeki no Kyojin/Attack on Titan).

Mas se teve uma coisa que decepcionou-me em Bravely Default foi o enredo. Eu não digo que quero algo inovador, é fatídico em todo JRPG acontecer "N" coisas que obrigam o grupo de heróis, que estão no meio da puberdade, salvar o mundo. É clichê. Mas aqui o clichê está estupidamente exagerado. Dentro da equipe principal temos "O herói politicamente correto", "O herói com problemas familiares", "O herói que precisa salvar o mundo por pura necessidade" e "O herói com amnésia e tarado". Esse último ainda anexa dois personagens clichês em um só, nossa, isso foi incrível!

Eu queria esganar cada um dos integrantes das minha equipe com as mãos nuas durante decorrer do jogo, é impressionante como personagens tão superficiais conseguiram ser tão irritantes. Além disso, todos os inimigos "principais" do jogo possuem um problema de serem "do mal" demais, salvo raríssima exceções. Algumas missões secundárias tem um enredo mais bem desenvolvido do que a história principal, então é provável que todo esse "tom escrachado" tenha sido proposital, mas Bravely Default me obrigou a ouvir as ladainhas do Tiz e da Agnès durante horas a fio e isso eu não é desculpa para brincadeira nenhuma.

No final, Bravely Default se mostrou mais de acertos do que erros, não é um RPG que definirá a geração (e dificilmente será lembrando como algo fora dos padrões do gênero). O máximo que ele provou é que pode tentar ser um novo "Final Fantasy" da Square para as plataformas da Nintendo, visto que temos sua sequência, Bravely Second, por vir. Não é um jogo que eu recomendo para quem quer se iniciar no maravilhoso mundo dos JRPGs, existem títulos muito melhores que esse espalhados por todos os consoles de todas gerações. Mas para quem está chateado porque não aparece nenhum RPG que lhe ambicione, Bravely Default pode ser um bom jogo.

Leia Também

Nintendo - 10/02/2016

Novo trailer de Bravely Second mostra a volta de Edea para a franquia

Para promover o lançamento de Bravely Second: End Layer no ocidente, a Nintendo está publicando pequenos trailers mostrando um pouco mais dos personagens principais do jogo. Entre eles, Edea Lee, uma das heroínas que ...

Leia Mais...

Nintendo - 20/01/2016

Bravely Second ganha data oficial de lançamento na América do Norte

Faz tempo desde que sabemos da existência de Bravely Second. O jogo, que já havia sido lançado no Japão no dia 23 de abril de 2015, contava apenas com um vago "Spring 2016" em sua previsão de lançamento. Mas eis que, ...

Leia Mais...