Nintendo - 09/01/2014

RareWare, Retro Studios e o futuro das franquias da Nintendo


RareWare, do céu ao inferno


Há alguns anos, a RareWare se tornou uma das principais empresas second party (que nada mais é do que uma third party que presta serviços exclusivos a uma outra empresa) da Nintendo.

Essa parceria de sucesso começou com o pé direito, quando a Nintendo ofereceu à empresa uma de suas principais franquias: Donkey Kong, e eles criaram o inesquecível Donkey Kong Country. O jogo, à frente de seu tempo, possuíam incríveis gráficos 3D, misturados com uma jogabilidade plataforma 2D, criando um ambiente rico e vivo, como nunca se tinha visto na geração 16-bit. O jogo é facilmente categorizado como um dos melhores do Super Nintendo, e chegou a ser coroado Jogo do Ano. Além de ter gerado duas incríveis continuações. Começava naquele momento um caminho promissor para as duas empresas.

Ainda no Super Nintendo, a Rare criou Killer Instinct, um jogo que não criou uma série tão promissora quanto Street Fighter ou Mortal Kombat, mas que conseguiria, com seu estilo único, se transformar em um ícone dos jogos de luta. Apesar de todos esses jogos de sucesso no Super NES, seria no Nintendo 64 que a Rare produziria seus melhores materiais, mostrando ao mundo gamer que ela sabia o que estava fazendo e não havia como um projeto seu dar errado, permitindo que a Nintendo pudesse confiar seu melhor material à empresa.


No console 64-bit da Nintendo, a Rare é responsável por grandes sucessos de vendas e críticas, como Goldeneye 007, que até hoje é aclamado pelos fãs como um dos melhores jogos de tiro em primeira pessoa; Perfect Dark, que serviu como uma espécie de sucessor espiritual de Goldeneye; os incríveis Banjo-Kazooie e Banjo Tooie, dois dos projetos mais ambiciosos da empresa, com uma incrível exploração em mundos 3D, história cativante, jogabilidade fluída e cujo terceiro episódio - aparentemente parte de uma trilogia planejada - infelizmente nunca viu a luz do dia; e o jogo que provavelmente sempre será lembrado como o maior feito da empresa, Conker’s Bad Fur Day. Deixar ela criar este tipo de material, um jogo com referências sexuais, palavrões e todo tipo de escatologia que você pode imaginar, foi uma pequena amostra de como a Nintendo confiava nessa parceria. O resultado não poderia ter sido outro, o jogo é icônico e (assim como todos os outros jogos da empresa) foi sucesso de crítica e extremamente premiado.

Conker’s Bad Fur Day saiu quase no final da vida do console e leva o Nintendo 64 ao extremo de sua capacidade, oferecendo diálogos totalmente falados durante todo o jogo, além de gráficos e texturas nunca antes vistas no console. Era a Rare mostrando mais uma vez que ela era imbatível e que se alguém poderia criar um material melhor do que o dela, seria ela mesmo.



Antes de terminar sua jornada como parceira da Big N, a Rare nos presenteou com um incrível jogo, que marcaria sua despedida com chave de ouro. O único jogo da empresa para GameCube, Star Fox Adventures. Por mais que sua existência gere controvérsias, e eu entendo a posição dos fãs da série que o olham com certo receio por fugir um pouco do estilo que a série adotou no Nintendo 64, não tem como negar que ele é um excelente jogo. Mas criticá-lo por inovar é “jogar seguro”, as séries precisam de renovação, ideias novas e as second party têm esse papel de criar coisas novas em fórmulas que já estão em um lugar seguro.

Adventures é um jogo bonito, divertido, com qualidade artística, visual e principalmente de gameplay. O estilo “roubado” de Zelda se adaptou bem à proposta do jogo e os combates aéreos, que marcaram a série, não foram descartados, apenas foram minimizados e adaptados ao estilo que a série parecia estar seguindo naquele momento. Foi uma manobra ousada mas que deu um ar de novidade ao mundo de Fox, e até hoje faz os fãs desejarem que outra empresa assuma a série e crie outro projeto inovador como Star Fox Adventures foi. Até porque nós já vivemos as aventuras de Star Fox 64 em 3D e agora seria legal poder vivenciar uma aventura diferente.



A história da Rare não teve um final feliz e todos sabemos como ela terminou... de qualquer forma, a empresa sempre será lembrada pelos incríveis projetos que realizou em parceria com a Nintendo, e deixou um legado forte para os gamers.

A ascensão da Retro Studios


Com a saída da Rare, a Nintendo ficou sem sua principal parceira, mas não demorou muito tempo até que ela conseguisse outra empresa para criar jogos exclusivos, e entregou nas mãos de sua subsidiária até então desconhecida Retro Studios uma de suas maiores franquias, mas que estava apagada nos consoles há algum tempo: Metroid.

Disposta a mostrar que era competente no que fazia e que queria seu lugar ao sol, ainda no GameCube a Retro nos presenteou com o fabuloso Metroid Prime. O jogo reconstruiu toda a temática da série, trazendo uma exploração 3D em primeira pessoa que faria até quem tem aversão aos first person se apaixonar pelo jogo. Muito longe de ser um First Person Shooter, Metroid Prime primava pela exploração, pela resolução de puzzles, e – apesar de ter uma gama interessante e inteligente de armamentos – deixou os tiros em segundo plano, mostrando que só sair atirando sem motivo não é o caminho.

Prime se tornou um dos maiores sucessos do Nintendo GameCube, e não demorou até que um segundo jogo fosse lançado. Tão bonito e interessante quanto o primeiro, Metroid Prime 2: Echoes ainda tinha a adição de um multiplayer para até quatro jogadores. Agora Prime já estava estabelecida como uma série de sucesso, alçando o nome da Retro ao estrelato e consolidando-se como seu principal foco. A trilogia foi fechada com Metroid Prime Corruption para Wii, transformando a série Prime em uma das mais famosas (e hypadas) do mundo dos games. Tanto que durante muito tempo os fãs pediram por um Metroid Prime 4. Hoje com menos intensidade, mas ainda acontece. A cada Nintendo Direct, a cada E3, toda vez que se é anunciado que a Retro Studios está envolvida em um novo projeto, Metroid Prime 4 ressurge das cinzas.



O sucesso da série Prime permitiu que a Retro Studios se tornasse então a queridinha da Nintendo (e dos gamers). Então sua próxima tarefa era reimaginar a série que, lá no Super Nintendo, levou a RareWare ao estrelato, Donkey Kong Country. A Retro nos trouxe até o mundo de Donkey Kong Country Returns. O jogo adotou o sistema plataforma 2D da série original, que estava em alta graças ao surgimento da série New Super Mario Bros. Apesar de ter sua cota de inspiração na série principal, o jogo prima pela originalidade e por, de certa forma, se distanciar bastante dos jogos da Rare, criando sua própria identidade. Talvez se ele não utilizasse a marca "Country" nos nomes, poderia ter ainda mais personalidade, desvinculando-se de uma vez por todas dos jogos que originaram este capítulo para o Wii, e criando uma identidade própria tanto para os jogos quanto para a Retro Studios.

Mas de qualquer forma, como já era de se esperar, foi um trabalho espetacular, mais do que competente. E agora o céu era o limite para a Retro. Os fãs, que antes clamavam por um Metroid Prime 4 como se não houvessem amanhã, agora queriam saber qual série da Nintendo a Retro Studios iria repaginar, ou criar uma nova IP, algo próprio, e partir para a criação sem limites. Isso explica o fato dos fãs ficarem ligeiramente decepcionados quando o novo projeto da Retro Studios foi anunciado, e era uma continuação de Donkey Kong Country Returns, não era uma franquia nova, não era uma nova IP. Mas não justifica a indignação, uma vez que sabemos que a Retro é competente o suficiente para realizar continuações que, apesar de serem parecidas no estilo, se distanciam da obra original pela qualidade e variedade do conteúdo apresentado.

Donkey Kong Country Returns é o balanço perfeito entre estilo, beleza e jogabilidade

Oras, Donkey Kong Country Tropical Freeze é bastante parecido com Returns? Sim, ele é. Parece uma versão HD do original? Sim, ele parece. Mas nós sabemos que está longe de ser a mesma experiência. Afinal de contas, Metroid Echoes (e Corruption) também seguiram o estilo de Prime, e ainda assim são jogos únicos, com experiências únicas, que se distanciam do jogo original exatamente pela diferenciação de seu conteúdo. Então, julgar Tropical Freeze por seguir o estilo de Country é precipitado, assim como julgar a Retro por fazer uma continuação de um projeto de sucesso. Ela já havia feito isso uma vez e foi muito bem sucedida. Não se surpreenda se a Retro se envolver em um terceiro jogo da franquia antes de seguir para outros caminhos.

O futuro é promissor e cheio de possibilidades


E esses outros caminhos... o que eles podem trazer de benefícios para as franquias da Nintendo?
Nós já vimos a RareWare reinventar Donkey Kong e Star Fox, já vimos a Retro reinventar Metroid, já vimos a Team Ninja reinventar (novamente) Metroid. Isso mostra que a Nintendo está apostando pesado em outras empresas, para que elas possam criar jogos inovadores e diferenciados, utilizando suas franquias mais clássicas como base, sem medo de arriscar, sem medo de errar. E uma das provas mais recentes disso é o inusitado Hyrule Warriors (nome provisório), parceria da Nintendo com a Tecmo Koei para criar uma nova experiência para os fãs de Zelda.



E não é a primeira vez que a Nintendo entrega uma de suas maiores séries, Zelda, para outra empresa. A Capcom já trabalho com Zelda em The Minish Cap e Four Swords Adventures, e o resultado foi simplesmente incrível. Agora isso está acontecendo em um patamar um pouco mais elevado, e nos faz pensar como seria se um dia ela entregasse um jogo da série principal, um jogo de console, para outra empresa "recriar" a série, assim como vimos a Rare e a Retro fazer com muito sucesso.

Parece difícil pensar que a Nintendo entregue uma série como Zelda (ou Mario) para outra empresa realizar um jogo da série principal, para console. Mas não é algo impossível de acontecer, além de existir uma imensa possibilidade de render um material de extrema qualidade que surpreenda os fãs. Produtos que antes eram de criação da Nintendo EAD estão sendo passados adiante. Luigi's Mansion, produzido pela EAD, teve sua continuação feita pela Next Level Games, o trabalho em Luigi's Mansion Dark Moon foi incrível e conseguiram fazer um jogo que superasse o original em beleza, jogabilidade e diversão, sem nunca perder a essência da série. Agora, a Next Level produz jogos exclusivos para a Nintendo, e existe um rumor de que ela ela está trabalhando em um projeto secreto. Mais uma parceria de sucesso que pode trazer muitas novidades para as franquias Nintendo.



Começa assim, com uma parceria, com um cross-over, começa com Hyrule Warriors, começa com Luigi, e o próximo pode ser o Mario. Nada impede que isso aconteça, nada mesmo. A partir do momento que a Nintendo se sentir segura, veremos Mario e Zelda sendo totalmente reimaginados, seja nas mãos da Retro Studios, seja nas mãos da Next Level Games, pois o mundo dos games é cheio de surpresas e tudo pode acontecer, ainda mais em se tratando da Nintendo, uma empresa que gosta de surpreender e preza tanto por trazer sempre o melhor e mais imaginativo material.

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