[Matéria] The Wind Waker - O Lado Belo da Triforce
Por Angelo Mota
The Legend of Zelda - The Wind Waker é um jogo polêmico (ponto).
Boa parte de seu sucesso está nessa polêmica. Pelo fato da Nintendo ter exibido um trailer que mostrava um Zelda para o GameCube com gráficos adultos e posteriormente, na hora de anunciar o jogo de fato, apresentar um estilo cartunesco, infantil... um desenho.
Esse julgamento acabou se mostrando precipitado. Não apenas pelo fato de The Wind Waker ser um jogo extremamente superior, mas porque o cel shading - estilo gráfico implantado - acabaria se tornando um sucesso, sendo utilizado à exaustão, criando jogos épicos como Tales of Symphonia e Okami.
Mas no final das contas, The Wind Waker se mostrou superior a todas as críticas negativas e conseguiu superar as expectativas até dos mais céticos.
O jogo, criado com o melhor do que o cel shading pode oferecer, abusa do estilo cartunesco para exagerar nas cores, nas luzes e principalmente nas expressões faciais dos personagens, criando uma gama de personalidades que até então não podia ser visto com tanta clareza em Ocarina of Time e Majora’s Mask. Por mais que estes dois jogos tenham personagens cheio de vida e identidade, foi em Wind Waker que isso se expandiu para os quatro cantos de Hyrule, e todos os habitantes daquele belo mundo ganhariam uma vida própria.
Em The Wind Waker, tudo é bonito, colorido... e leve.
O jogo apresenta uma das histórias mais profundas de toda a série. Estando na linha do tempo do herói que triunfou e derrotou Ganondorf, Wind Waker já começa com um buraco na timeline, mostrando que, quando Ganondorf escapou de sua prisão, o herói não estava presente para banir o mal, fazendo com que Hyrule fosse inundada e selando aquela próspera terra para sempre no fundo do oceano.
Se The Wind Waker é o primeiro da linhagem do herói triunfante logo após os eventos de Ocarina of Time, onde estava o herói quando o mundo precisou dele?
Desde o primeiro The Legend of Zelda, em que o mundo era totalmente aberto para exploração (e chegava a ser até um pouco confuso, por isso muitos fãs o consideram o mais difícil até hoje), The Wind Waker foi a primeira incursão da série em um “mundo aberto”. A série The Legend of Zelda sempre teve um mundo fantástico e imenso, cheio de lugares mágicos e surpreendentes, mas seu progresso no jogo sempre foi limitado pela ordem das dungeons e por lugares que você pode acessar apenas em determinados momentos. Em Wind Waker, depois da segunda dungeon, o mundo se abre totalmente para você. É claro que as dungeons continuaram com uma ordem lógica e algumas ilhas estão inacessíveis no começo, mas você tem liberdade de exploração naquele imenso mapa composto por 49 ilhas das mais variadas. Você pode facilmente ir para a próxima dungeon ou simplesmente sair navegando sem rumo, parar na primeira ilha que encontrar e ver o que ela tem para te oferecer. É sem dúvida o maior e mais completo mundo já criado para um jogo da série.
The Wind Waker é um jogo leve, com uma jogabilidade simples e atenuado por sua beleza estética. Apesar do mundo ter sido dominado pelo oceano, Ganondorf estar sequestrando meninas loiras para achar Zelda e as raças que não foram extintas terem que evoluir de forma drástica, nada no jogo parece apresentar um perigo real. Tudo é bonito e colorido, e acontece de forma leve e artística, passando uma impressão de que o perigo é algo totalmente alegórico no jogo, e que na verdade nada de mal irá acontecer, não importa a situação em que os personagens se encontram, sendo o total oposto do clima pesado e de tensão que permeia cada segundo de Twilight Princess.
O estilo cartunesco com suas cores e diversidade de expressões foi o ponto chave para a criação dessa “tensão de mentirinha”. Percebam como é a cena em que Aryl (irmã do nosso herói) é sequestrada: Um grande e colorido passado a leva em suas garras, enquanto Link faz caras e bocas de surpresa, deixando a situação de certa forma divertida, a partir daquele momento já sabemos que a pequena garota não corre perigo e que resgatá-la será algo extremamente divertido, sem sofrer com o peso da responsabilidade em suas mãos.
Isso se repete com todos os inimigos novos e chefes de dungeons que são encontrados pelo caminho. Link faz caras e bocas, promovendo humor às cutscenes, aliviando uma tensão que, pelos gráficos desenhados do cel shading, já é de certa forma muito leve e superficial.
Mas essa “superficialidade” na tensão não faz o jogo menos interessante e/ou profundo do que os outros exemplares da série. Isso tudo faz parte da característica maior de Wind Waker, que é ser divertido enquanto conta uma história séria, pesada e importante para o desenrolar da série.
The Legend of Zelda - The Wind Waker conta uma linda história de superação.
Sua introdução, apresentada de forma épica através de desenhos que representam uma espécie de livro sagrado de onde as pessoas tiraram suas lendas mais famosas, serve para criar o clima de uma análise profunda de como as pessoas agem nos momentos de crise e como suas atitudes podem afetar todos que estão ao seu redor.
O mundo de Hyrule foi inundado e todas as raças que ali viviam precisaram se adaptar se quisessem sobreviver. Os Zoras, seres aquáticos que vivem em água doce, não suportaram viver em um mundo dominado pelo mar, e para não serem extintos, evoluíram lentamente para pássaros, recebendo a bênção do mítico dragão Valoo, que é o responsável por conceder asas a essa nova raça, que agora se denomina Rito.
Os Gorons são criaturas das montanhas, que não sabem nadar. Isso não quer dizer que eles seriam extintos caso precisassem viver no mar, mas não é seu habitat natural. Quando o oceano tomou Hyrule, sua raça simplesmente desapareceu, pois suas minas foram totalmente submersas. Os poucos que conseguiram ficar na superfície se transformaram em mercadores ambulantes, superando todos os seus medos e adversidades para poder transportar mercadorias por todos os continentes daquele mundo que agora é composto quase que em sua totalidade pelo mar.
Os Kokiri, criaturas da floresta que vivem sob a proteção da grande e poderosa Deku Tree nunca saíram de sua floresta, mas agora com a nova realidade de Hyrule, tiveram que ficar confinados em um espaço extremamente pequeno e ainda cercados por uma área de extremo perigo e repleta de inimigos, que eles chamam de Forbidden Woods. Não se sabe se foi a convivência direta com a grande árvore ou algum tipo de magia (sendo que eles agora mexem com poções feitas por Boko Baba Seeds e Chu Jellys), mas eles foram transformados em pequenos galhos de árvores que utilizam máscaras feitas de folha, perdendo sua aparência humana.
E os Hylian, humanos que viviam no palácio, ao redor do castelo, tiveram que se espalhar pelo mundo, se estabelecendo nas diversas ilhas, perdendo toda sua identidade como integrantes do povo real.
E os Hylian, humanos que viviam no palácio, ao redor do castelo, tiveram que se espalhar pelo mundo, se estabelecendo nas diversas ilhas, perdendo toda sua identidade como integrantes do povo real.
O jogo conta a história de um garoto que, contra a sua vontade, precisa participar de um ritual sagrado de seu povo, que consiste em vestir os garotos de verde quando eles atingem uma idade específica. Foi uma sacada genial para justificar a famosa túnica verde, uma vez que Wind Waker representa uma história muito mais pessoal para o herói do que qualquer outro jogo da série, e ele simplesmente aparecer assim seria algo um tanto quanto forçado.
Sim, toda a trama de Wind Waker gira em torno do herói, e aqui ele é realmente o personagem principal, diferente do que acontece em Twilight Princess ou Skyward Sword. E assim que sua doce irmã é sequestrada, ele precisa superar seus próprios medos e parte em busca dela, navegando os mares da antiga Hyrule, acompanhado de um grupo de piratas. Tudo é tão real em The Wind Waker que as expressões que o cel shading permite mostram como Link parece assustado e confuso em diversas situações, humanizando o herói, não fazendo com que ele seja um ser destemido que enfrenta qualquer perigo de olhos fechados. Os momentos que sua expressão se transforma em raiva e coragem é quando vê seus amigos e familiares em perigo.
Essa jornada pessoal irá colocá-lo no caminho da princesa Zelda e do vilão Ganondorf. E nesse jogo em especial, os três desempenham papéis de extrema importância, saindo um pouco do estereótipo superficial de Herói/Princesa/Vilão. Cada um deles têm um caminho pessoal de superação a ser traçado na história até que seus destinos se cruzem no confronto final.
Zelda desempenha um papel de extrema importância na história, como a doce e corajosa pirata Tetra. Sem saber de sua descendência, ela ajuda nosso herói a desbravar os mares da antiga Hyrule e resgatar a pequena Aryl, para durante o processo descobrir que ela é ninguém mais, ninguém menos que a Princesa Zelda, da família real de Hyrule. Agora, em posse dessa informação, a pequena pirata precisa decidir seu caminho, ser a princesa de um reino outrora destruído ou partir em busca de uma nova terra e conduzir seu próprio povo a partir de sua linhagem real.
A participação da princesa no decorrer da história faz com que a trilogia iniciada em The Wind Waker (que se completa com Phantom Hourglass e Spirit Tracks) sejam os jogos em que Zelda tenha a maior parcela de participação na história.
Mas uma das maiores surpresas de Wind Waker está no vilão. Sim, o vilão Ganondorf. Não é surpresa que ele seja o antagonista, mas sim que, pela primeira vez, encontramos um Ganondorf que... podemos dizer... tem intenções nobres.
Ganondorf está procurando desesperadamente a princesa sabendo que, quando encontrá-la, o herói irá em seu resgate, e assim ele conseguirá novamente unir os 3 pedaços da triforce. O que já é seu por direito (Poder), a parte que pertence a Zelda (Sabedoria) e a do herói (Coragem). Com isso, ele conseguirá erguer Hyrule do fundo do mar e recuperar aquela terra que um dia ele tentou conquistar e tentará novamente quando seus planos de reverter a inundação forem concretizados.
Ok, suas intenções de dominar novamente aquela terra não são "nobres", mas ele é o único que quer recuperar Hyrule, enquanto o rei, disfarçado de King of Red Lions para ajudar o herói, prefere que ela continue selada sob o oceano, para que seus protegidos encontrem uma nova terra para se estabelecer, deixando para trás de uma vez por todas todo o sofrimento que aquele povo um dia viveu.
Por mais que - como já dito anteriormente - nada no decorrer do jogo apresente um perigo real, a história dos três (Zelda, Link e Ganondorf) é conduzida de forma sublime, fazendo com que sua importância para a criação de uma nova lenda seja acentuada a cada decisão que um dos três toma, e tudo isso possa culminar em um embate de proporções épicas pela salvação e/ou condenação daquele mundo que de certa forma nem existe mais, e nada mais é do que uma sombra do que um dia aquela terra já representou para seu povo, e pouca significância tem para aqueles que agora a povoam.
Todo esse enredo é amarrado pela trilha sonora mais inspirada já criada. As músicas de Wind Waker são alegres como sua essência. Até algumas músicas tristes e de tensão, como temas de batalha contra chefes por exemplo, apresentam melodias agitadas. Mas as músicas que são para ser alegres, o fazem com uma maestria criando temas tão inesquecíveis e épicos como a própria lenda. Detalhe especial para as músicas de Dragon Roost Island, de Forest Haven e principalmente, a música de navegar pelos oceanos. Uma melodia tão bem conduzida que é capaz de ser executada em mais de 80% do jogo e nunca ficar cansativa (mesmo podendo haver controvérsias aqui).
The Wind Waker é um jogo completo e atemporal que infelizmente até hoje enfrenta uma barreira gigante para ser apreciado, o preconceito. Assim que você passa por esse "impedimento" inicial, irá mergulhar em um mundo de beleza, alegria e principalmente em uma das histórias mais profundas e pessoais já apresentadas na série Zelda. A história do menino que se tornou herói para salvar sua família e durante o processo acabou salvando todo o seu mundo, transformando-se em uma lenda. A lenda do Herói do Vento.
Essa jornada pessoal irá colocá-lo no caminho da princesa Zelda e do vilão Ganondorf. E nesse jogo em especial, os três desempenham papéis de extrema importância, saindo um pouco do estereótipo superficial de Herói/Princesa/Vilão. Cada um deles têm um caminho pessoal de superação a ser traçado na história até que seus destinos se cruzem no confronto final.
Zelda desempenha um papel de extrema importância na história, como a doce e corajosa pirata Tetra. Sem saber de sua descendência, ela ajuda nosso herói a desbravar os mares da antiga Hyrule e resgatar a pequena Aryl, para durante o processo descobrir que ela é ninguém mais, ninguém menos que a Princesa Zelda, da família real de Hyrule. Agora, em posse dessa informação, a pequena pirata precisa decidir seu caminho, ser a princesa de um reino outrora destruído ou partir em busca de uma nova terra e conduzir seu próprio povo a partir de sua linhagem real.
A participação da princesa no decorrer da história faz com que a trilogia iniciada em The Wind Waker (que se completa com Phantom Hourglass e Spirit Tracks) sejam os jogos em que Zelda tenha a maior parcela de participação na história.
Mas uma das maiores surpresas de Wind Waker está no vilão. Sim, o vilão Ganondorf. Não é surpresa que ele seja o antagonista, mas sim que, pela primeira vez, encontramos um Ganondorf que... podemos dizer... tem intenções nobres.
Ganondorf está procurando desesperadamente a princesa sabendo que, quando encontrá-la, o herói irá em seu resgate, e assim ele conseguirá novamente unir os 3 pedaços da triforce. O que já é seu por direito (Poder), a parte que pertence a Zelda (Sabedoria) e a do herói (Coragem). Com isso, ele conseguirá erguer Hyrule do fundo do mar e recuperar aquela terra que um dia ele tentou conquistar e tentará novamente quando seus planos de reverter a inundação forem concretizados.
Ok, suas intenções de dominar novamente aquela terra não são "nobres", mas ele é o único que quer recuperar Hyrule, enquanto o rei, disfarçado de King of Red Lions para ajudar o herói, prefere que ela continue selada sob o oceano, para que seus protegidos encontrem uma nova terra para se estabelecer, deixando para trás de uma vez por todas todo o sofrimento que aquele povo um dia viveu.
Por mais que - como já dito anteriormente - nada no decorrer do jogo apresente um perigo real, a história dos três (Zelda, Link e Ganondorf) é conduzida de forma sublime, fazendo com que sua importância para a criação de uma nova lenda seja acentuada a cada decisão que um dos três toma, e tudo isso possa culminar em um embate de proporções épicas pela salvação e/ou condenação daquele mundo que de certa forma nem existe mais, e nada mais é do que uma sombra do que um dia aquela terra já representou para seu povo, e pouca significância tem para aqueles que agora a povoam.
Todo esse enredo é amarrado pela trilha sonora mais inspirada já criada. As músicas de Wind Waker são alegres como sua essência. Até algumas músicas tristes e de tensão, como temas de batalha contra chefes por exemplo, apresentam melodias agitadas. Mas as músicas que são para ser alegres, o fazem com uma maestria criando temas tão inesquecíveis e épicos como a própria lenda. Detalhe especial para as músicas de Dragon Roost Island, de Forest Haven e principalmente, a música de navegar pelos oceanos. Uma melodia tão bem conduzida que é capaz de ser executada em mais de 80% do jogo e nunca ficar cansativa (mesmo podendo haver controvérsias aqui).
The Wind Waker é um jogo completo e atemporal que infelizmente até hoje enfrenta uma barreira gigante para ser apreciado, o preconceito. Assim que você passa por esse "impedimento" inicial, irá mergulhar em um mundo de beleza, alegria e principalmente em uma das histórias mais profundas e pessoais já apresentadas na série Zelda. A história do menino que se tornou herói para salvar sua família e durante o processo acabou salvando todo o seu mundo, transformando-se em uma lenda. A lenda do Herói do Vento.