Nintendo - 09/05/2013

[Matéria] Twilight Princess - O lado triste da Triforce


Twilight Princess é um jogo marginalizado. Ele tem sua cota de fãs e sua cota de haters, assim como todo jogo da série, mas na maioria das vezes ele é mal interpretado e taxado como um “Ocarina of Time crescido”,o que é de certa forma muito errado, uma vez que Twilight Princess apresenta mais aspectos em comum com A Link to the Past e a série Four Swords do que exatamente com Ocarina, e essa comparação não faz exatamente justiça a tudo o que o jogo representa para a série e não valoriza sua importância para a história decadente do herói que aprendemos a amar. O Herói do Tempo.

Muita gente acha que, com seus tons apagados e seu clima escuro, Twilight Princess está fazendo força para ser sombrio, assim como Majora’s Mask o é sem fazer sacrifício algum e ainda com muitas cores. Mas não é exatamente o caso. Twilight Princess não é sombrio porque não consegue ou não tem capacidade, ele não é simplesmente porque não tem intenção de ser, Twilight Princess é um jogo triste, depressivo, e isso ele é em todos os seus aspectos, sem precisar fazer esforço algum.

Tristeza e desolação são sentimentos que permeiam o jogo do começo ao fim. Os tons apagados, os lugares escuros, e até cenários gigantescos e simplesmente vazios (tanto de gente, quanto de inimigos) tem um porquê de ser. Uma das maiores reclamações dos fãs é que Twilight Princess é um jogo imenso, mas completamente vazio. Você pode cavalgar por horas em Hyrule Field e simplesmente não encontrar inimigo algum. Isso faz parte do clima do jogo, criar um ambiente desolado, demonstrando que aquela terra outrora colorida e cheia de vida, está se transformando em um mundo deserto e escuro. E se alguma atitude não for tomada imediatamente tudo aquilo será dominado pela escuridão e deixará de existir, porque o mundo de Hyrule simplesmente não consegue existir sem a luz.



Logo nos primeiros minutos da história você descobre que o mundo em que vive foi dominado pela escuridão e ao ser sugado por ela, transforma-se em uma criatura bestial, pois sua forma humana não suporta aquele mundo. Então acontece seu primeiro encontro com Midna, uma criatura esquisita que está sempre sorrindo e fazendo piadas, mas esconde um segredo por trás desse jeito brincalhão. Vocês dois aparentemente estão presos, e precisam se ajudar para sair daquele lugar. Vocês não se conhecem, mas não existe outra opção, então uma aliança é formada.

Não muito distante do seu destino está a princesa do reino, Zelda, reclusa em seus aposentos, escondida atrás de uma capa, sofrendo por não poder fazer nada a respeito da escuridão que dominou seu reino. Zelda não tem forças para lutar, e foi consumida pelo sentimento de tristeza que contamina toda Hyrule, está derrotada. Midna usa esse momento para fazer pouco caso da princesa, endereçando-a como "Twilight Princess", porque agora seu mundo é a escuridão, e se ela quiser continuar sendo princesa, terá que ser naqueles termos. Neste momento as dúvidas sobre Midna aumentam, e você não sabe mais se aquela criatura que está cavalgando em suas costas é realmente uma aliada, ou está ali apenas porque precisa de você e poderá te descartar a qualquer momento.

Zelda é o primeiro personagem de muitos que irão te levar a um caminho de tristeza e desolação. Ver seu semblante sofrido durante sua conversa com Midna é apenas uma amostra do que está por vir em seu trajeto.



Midna é uma companheira brincalhona e divertida, mas durante toda a aventura, ela não transmite exatamente confiança com seu jeito misterioso de ser. É fácil inclusive pensar que suas intenções não são exatamente nobres e ela pode vir a se voltar contra você. Mas o que ela esconde na verdade é que ela é a princesa de seu mundo, o Twilight Realm, ela é a Twilight Princess (título que ela atribui a Zelda anteriormente).

Mas apesar disso, Midna não concorda com essa invasão, e acredita que deve existir um balanço entre os mundos, para que eles não entrem em colapso. O que ela esconde então é mais tristeza, por ter sido banida de seu mundo, por ter sido transformada naquela criatura esquisita, e por ter que assistir os universos colidirem, correndo o risco de tudo ser destruído. Sua identidade não é relevada porque tem vergonha de sua maldição e usa seu jeito próprio para conseguir ajuda, manipulando o herói. Ela é a verdadeira protagonista da história e você será usado de todas as formas para que ela alcance seus objetivos: derrotar Zant e restaurar o balando do mundo, podendo retornar para seu lar e governar os Twili, criaturas do mundo da escuridão que também estão sofrendo por terem sido amaldiçoadas.

Ela irá lutar ao lado do herói para reverter essa situação, mas enquanto isso não se resolver, sempre haverá uma princesa triste escondida atrás do constante sorriso da criatura caricata em que ela se transformou.



Um de seus encontros mais marcantes é com um guerreiro fantasma, Hero's Shade, que passará a você todo o seu conhecimento. Suas falas se resumem a dizer que tudo o que ele está te ensinando é uma arte perdida, que ele não foi capaz de utilizar em batalha e agora toda essa sabedoria deve ser sua para que você possa derrotar o mal com ela. Ele está sempre se dirigindo a você como um filho, te fazendo perceber que existe alguma ligação de sua decendência com a existência deste guerreiro misterioso.

Posteriormente (não no jogo, mas em Hyrule Historia) descobrimos que esse guerreiro misterioso é na verdade o Herói do Tempo, o Link de Ocarina of Time.

Como Twilight Princess faz parte da cronologia do Link criança, nada do que ele viveu em Ocarina realmente aconteceu quando Zelda fez o tempo voltar, e o herói ficou atormentado pela perda de sua amiga Navi e por ser o único a ter conhecimento real de tudo o que aconteceu no futuro, sendo assombrado por algo que está para acontecer e só ele pode impedir. Não tendo vivido de verdade essa aventura, mas com as memórias dela, Link se sente de certa forma inútil, nunca tendo sido reconhecido de fato como um “herói”, e todo seu conhecimento de batalha ficaria perdido por muitos anos, até que ele voltasse como um espírito, e passasse seus conhecimentos adiante. Por isso o guerreiro está constantemente falando da “sabedoria milenar nunca utilizada”. Ou seja, nessa cronologia em que Twilight Princess está inserida, o Herói do Tempo, o mais lendário de todo o mundo, nunca existiu. Ele existe apenas na cabeça de uma criança que acabou se perdendo posteriormente no misterioso mundo de Termina.



O Herói nunca existiu, ele mesmo fala em uma das conversas que tem com você durante os ensinamentos, que nunca foi reconhecido verdadeiramente como um herói. Mas suas lembranças geraram consequências no destino de outras pessoas. Não tendo outra alternativa senão acreditar em seu pequeno amigo, Zelda decide tomar uma atitude que poderia salvar seu reino, mas que de certa forma acaba levando-o à ruína: a condenação de Ganondorf.

No jogo ele está preso por algo que ele nunca realmente fez. Quando Link voltou no tempo, tudo o que ele sabia do futuro foi passado adiante e Ganondorf foi punido por seus crimes futuros, sentenciado a ser executado em Arbiter’s Ground pelos Sages. A execução foi mal sucedida e Ganondorf, escolhido pelas deusas para ser detentor da Triforce do Poder, consegue escapar de sua prisão, tendo que ser imediatamente banido para o Twilight Realm em um ato de desespero. Isso pode ter ajudado a criar um herói traumatizado, afinal ele era responsável pela punição de alguém baseado em um futuro que não aconteceu. E por mais que vejamos o vilão fugindo de sua prisão no Twilight Realm e tentando dominar Hyrule, temos que nos perguntar: Ganondorf sempre foi ruim mesmo ou ele estava apenas se vingando de sua punição sem motivos? Porque até então ele nunca tinha demonstrado realmente sua maldade.



A invasão do Twilight Realm no mundo de Hyrule não foi o único problema que aquela terra enfrentou. Os portões manchados de sangue na região de Kakariko Gorge mostram que, antes mesmo da invasão de Zant, alguma coisa aconteceu ali. Enquanto o herói estava perdido em seu luto por Navi, no mundo de Termina, Hyrule foi atacada por alguma força maior, que desolou aquela terra, uma guerra de proporções nunca antes vista. Essa lacuna entre Ocarina e Twilight provavelmente será preenchida por algum jogo no futuro, mostrando o que aconteceu exatamente ali. Todo aquele sangue espalhado pelo jogo mostra que, por mais que eles tenham sido vitoriosos, muitas vidas se perderam, aprofundando ainda mais o clima de tristeza que permeia o jogo.

Seu encontro com os Sages que guardam o Mirror Chamber é um momento extremamente pesado e sombrio, quando eles te contam como iriam executar Ganondorf por seus crimes, e este em um ataque de fúria conseguiu escapar de suas correntes e matou um deles. Essa cena mostra como isso afetou todos os outros, transformando-os em criaturas tristes e com muitas palavras de pesar, diferente dos que vimos em Ocarina, cheios de cores e vida, mesmo depois da passagem do tempo e do reinado de Ganondorf. Não se sabe ao certo se estes de Twilight são os mesmos de Ocarina of Time, mas como eles carregam em seus peitos os medalhões que representavam os Sages anteriores, isso é uma possibilidade, e se assim o for, algo muito errado deve ter acontecido com eles para que se transformassem em criaturas sem rosto portando máscaras que praticamente ilustram seu sofrimento. Sua origem é desconhecida, então essa ligação entre os Sages de Ocarina of Time e os de Twilight Princess é meramente especulativa.



Twilight Princess reserva um dos momentos mais sombrios de toda a história da série, quando o herói encontra Lanayru, o espírito que descansa em Lake Hylia, e este conta a história da criação do mundo (assim como acontece em Ocarina), mas de uma forma mais pesada (assim como são as coisas em Twilight). Tendo o próprio herói como exemplo, Lanayru alerta dos perigos de se ter controle sobre a Triforce, porque o Poder (uma das forças) é capaz de corromper a mais pura das almas. Por isso Ganondorf, detentor da Triforce do Poder, tem essa sede de dominação e não aceita que o Herói e a Princesa tenham sua parte na divisão da Triforce. Esse momento representa uma das cenas mais macabras já vista em um jogo da série, em que o Herói se vê sendo dizimado por um poder malígno que, como a própria cena mostra, na verdade é ele próprio. A Triforce do Poder é capaz de consumir uma pessoa até que não sobre mais vestígios do que ela foi um dia. Isso nos leva a pensar lá atrás, e tentar entender quem era Ganondorf antes dele ganhar o Poder, e o que ele pode ou poderia ter feito por seu povo se seu destino tivesse sido de alguma forma diferente.




Durante todo seu percurso, tudo é dor e sofrimento. Crianças são sequestradas, não por um pássaro colorido como em Wind Waker, mas por criaturas demoníacas que as machucam deixando-as à beira da morte. Soldados que deveriam estar protegendo o castelo estão amedrontados porque sabem que não têm poder algum sobre o mal que foi propagado naquela terra outrora cheia de vida. Seus amigos estão acuados em um vilarejo, provavelmente acreditando que aquilo não deve acabar bem, apesar de nutrirem uma esperança naquele “herói” que subitamente apareceu em suas vidas oferecendo ajuda. A Rainha dos Zoras, Rutela, foi executada pelas criaturas de Zant diante de seu povo, para servir como exemplo a quem ousar se rebelar contra as forças das trevas.

E quantas pessoas tristes e solitárias existem no castelo, como a esquisitíssima Agitha, que coleciona insetos para fazer um baile. E Jovani, que em sua ganância, foi transformado em ouro, e agora tem que viver sozinho, sentado sob sua riqueza, sem poder sequer se mexer. Isso tudo mostra como o clima de Twilight Princess é montado. Um mundo de dor, sofrimento e desolação, criando uma situação de desespero em que as pessoas perderam a esperança de uma salvação e o mundo vai sendo desconstruído aos poucos até se tornar uma grande ruína dominada pela escuridão.



Link é um coadjuvante em Twilight Princess. Ao contrário de tramas como Ocarina of Time e Majora’s Mask, em que o herói é o centro da história (e até em Wind Waker, apesar de algumas tramas paralelas terem um pouco mais de importância), aqui ele é apenas um garoto perdido no meio de uma guerra que não é dele, mas que agora ele precisa ajudar a vencer. Percebam como ele começa a história no “nada” e termina em “lugar nenhum” (não estou falando de espaços físicos, mas sim de importância na trama). Ele vive sozinho, em uma casa isolada do vilarejo, e suas relações com as pessoas daquele lugar - mesmo com Ilia, que seria uma tentativa de par romântico para o herói - são superficiais, exatamente para demonstrar que você não é a peça principal da história, e sim apenas um peão. Link é usado por Midna, por Zant, Ganondorf e até por Zelda, para que a batalha por Hyrule possa ser bem sucedida. No final do jogo, após todos os créditos, ele aparece abandonando a floresta em seu cavalo, deixando Ilia (sua única relação real com aquele mundo) para trás, provavelmente para buscar seu caminho e viver uma aventura que seja verdadeiramente sua.

Isso inclusive torna mais forte a ligação deste Link com a do Hero's Shade (Hero of Time), porque ambos viveram uma aventura que não lhes pertencia. Enquanto um viveu uma história que nunca aconteceu, o outro viveu uma história que não era dele, e agora ele precisa buscar seu caminho, para não ter o mesmo destino de seu antecessor, e evitar viver uma eternidade atormentado por algo que não era real e ainda assim foi capaz de causar tantos danos em gerações futuras.

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