[Matéria] Adeus, Nintendo Power...
Por Mario Toledo
Era uma vez, em uma época pré-internet, onde as maiores fontes de informações vinham de mídias impressas, diversos gamers acompanhavam todas as novidades da gamesfera através de revistas especializadas, que faziam o maior sucesso. Eu era um destes gamers, que gastava sua mesada mensal de R$ 10 em revistas antigas de games, como a Ação Games, PS World, Super Game Power e Nintendo World (além de outras da qual não consigo me lembrar).
Nos EUA, esta cultura foi ainda mais difundida, onde diversas revistas e outros típos de mídia se mantiveram fortes por muito tempo. Isto até a alguns dias atrás.
Anunciado recentemente, a Nintendo Power, a maior revista de conteúdo da Nintendo dos EUA e Canada, será cancelada definitivamente, tendo sua última edição lançada em dezembro.
Foi um choque não só para os "nintendistas" , mas também para todos os gamers do mundo. A Nintendo Power é lançada mensalmente desde 1988, falando do universo da Nintendo em geral, contendo previews e reviews, matérias e diversos outros artigos, tornando a revista um refúgio para muitas pessoas que amam a cultura gamer.
O motivo do cancelamento não foi divulgado. Simplesmente, a Nintendo não renovou o contrato que tinha com a editora Future US, subsidiária da britânica Future. Apesar da falta de um motivo, muitas pessoas especularam o ocorrido. Uma grande massa de internautas afirma que o cancelamento da revista se deu pela atual era da informação, muito mais rápida, e muito mais fácil de ser alcançada. Segundo dito, a revista não conseguiu competir com a forma como sites e blogs publicam notícias e artigos, além das demais plataformas móveis de divulgação digital, como tablets e smartphones.
Acho sim errado uma revista não ter outras formas de dissiminação de informação, e não se adaptar aos padrões da realidade... Mas a Nintendo Power sempre foi uma excessão. E isto esta muito claro no número de assinantes que a revista possui: são 475 mil assinantes, que aguardam mensalmente por uma das revistas mais adoradas do ramo. Sem dúvida, isso mostra que, independente de como fosse, a revista sempre teria o apoio dos fãs. Existem princípios que a Nintendo esteja elaborando um canal único para disseminação de informação, vindo direto da empresa. Isso já existe, através do eShop e dos canais do Wii, e poderá expandir para smartphones e tablets, e outras mídias virtuais.
O maior buraco dentro desta história é o fechamento não só de uma revista, mas de uma cultura de 15 anos de história. Muitos dos atuais profissionais da área de games, foram inspirados pela Nintendo Power a trabalharem com o que gostam. Cliff Bleszinski, criador do Gears of Wars, foi um deles, e deu um pronunciamento sobre o ocorrido:
"A Nintendo Fan Club, e depois Nintendo Power, foram incrivelmente importantes periódicamente para meu crescimento no subúrbio da Nova Inglaterra. Lembre-se, eu cresci em uma era pré-internet, então qualquer informação que alguem podia adquirir de games vinha de únicas fontes confiáveis - de trás das caixas, ou de contatos com os amigos.Aqui no Brasil, tivemos casos parecidos. Não só revistas do passado que foram canceladas (como a própria Ação Games), mas também a NGamer e a EDGE, que continham ótimos artigos e matérias sobre o mundo dos games.
A Nintendo Power não foi apenas o meu vislumbre do que estava por vir. Era também o meu portal para fora do mundo afora. Ela derramou combustível no fogo de meu coração flamejante dos videogames, mostrando previews de títulos que estavam por vir, e o quanto maravilhosos eles se mostravam. Eu nunca vou esquecer de ver os chefões de Mega Man 2 nas páginas. De fato, quando penso nisto, consigo até mesmo sentir o cheiro de tinta das páginas.
A revista tinha até mesmo me dado o gostinho discreto de video games, quando eu colocava meu nome para o Fun Club, e posteriormente, minha primeira dúvida para a Nintendo Power.
De mais importante, eu aprendi o poder do hype. Sejamos honestos: a Nintendo Power era um dispositivo de propaganda da Big N. Mas quando você é um garoto solícito do Ensino Fundamental, que até mesmo comia Cereal da nintendo, que cobria suas paredes com logos da Nintendo, e era chamado de "Nintendo Boy" no onibus, era um costume verificar a caixa do correio diariamente.
A revista era ótima, e sentiremos saudades, tanto qual por seu entusiasmo, especialmente em uma era digital, que poderá ser rápida, antes de apreciada."
A revista NGamer e EDGE são exemplos de boas revistas do universo gamer canceladas no Brasil.
A Nintendo Power fará falta no mercado. Se uma revista de porte cultural tão forte foi cancelada, o que podemos esperar aqui no Brasil, onde as revistas mensais já não possuem apoio popular, e ainda sofrem aumento de preços ?
Tenho pena desta geração atual, que não sabe o valor de aguardar pacientemente, todo mês, por uma revista que lhe tira da realidade atual, e aborda os conteúdos que você tão adora ler. Não sei o que o futuro trará as mídias impressas, mas sei que, em dezembro, prestarei minhas homenagens a Nintendo Power, adquirindo sua última edição, custe o que custar.